Dia 09 de Junho de 2022 comemorou-se na Rússia com diversas festividades o 350. aniversário de Pedro I e nesta ocasião o presidente da Rússia, Wladimir Putin, comparou sua política com a do Czar Pedro I. O paralelo da atualidade com a história russa mostra que, assim como o Czar Pedro I na Guerra do Norte possibilitou a Rússia a se tornar a nova principal potência no Mar Báltico e um novo ator importante nos assuntos europeus, agora é a vez de Putin fazer o mesmo com a guerra contra a Ucrânia.
Porém, enquanto no século XVIII Pedro I da Rússia se aproveitou de uma fraqueza política do Reino da Suécia, coisa normal na época, agora no século XXI Putin faz guerra para defender a Rússia de aproximações perigosas de adversários, possíveis inimigos.
Pré-história da guerra russo-ucraniana
A OTAN há anos vem aproximando suas fronteiras em direção à Rússia e isso é uma afronta da qual o atual presidente da Rússia, Wladimir Putin, tentou se defender o tempo todo. Então, de 2008 para cá vozes altas na política estadunidense com a silenciosa conivência da União Européia pedem o empoderamento militar da Ucrânia e da Geórgia através de suas respectivas adesões à OTAN.
Am 8. September 1995, während einer Pressekonferenz in Moskau warnte der russische Präsident, Boris Jelzin, vor der Gefahr eines Krieges in Europa für den Fall einer Osterweiterung der NATO: „Es ist ein großer politischer Fehler, wenn die NATO erweitert wird“... „Es wird die Flammen des Krieges in ganz Europa entfachen – bestimmt.“, sagte Jelzin vor der internationalen Presse.
O cientista político estadunidense, John J. Mearsheimer, no contexto da questão sobre afrontamento e guerra ou dipolomacia e paz foi o primeiro a ter coragem de alertar para tal afrontoza e perigosa geo-política européia, o que ele hoje considera como a „pré-história desta guerra.”
No dia 13 de Março de 2014, o The New York Times, na época da intervenção russa na Crimeia, publicou um artigo de Mearsheimer com a manchete „Incompreensão da Ucrânia“ e nele se lê o seguinte:
„O presidente Obama decidiu ser duro com a Rússia impondo sanções e aumentando o apoio ao novo governo da Ucrânia. Este é um grande erro. Essa resposta é baseada na mesma lógica defeituosa que ajudou a precipitar a crise. Em vez de resolver a disputa, isso levará a mais problemas.“
Obama incrementou em 2015 as sanções contra a Rússia e um coro de vozes já desejava o armamento da Ucrânia.
Num outro artigo, também publicado pelo The NYT no dia 08 de Fevereiro de 2015 sob a manchete „Não arme a Ucrânia“, Mearsheimer se expressou da seguinte maneira:
„A crise na Ucrânia tem quase um ano e a Rússia está ganhando. Os separatistas no leste da Ucrânia estão ganhando terreno e o presidente da Rússia, Vladimir V. Putin, não mostra sinais de recuar diante das sanções econômicas ocidentais.„
„Sem surpresa, um crescente coro de vozes nos Estados Unidos está pedindo armamento da Ucrânia. Um relatório recente de três importantes think tanks americanos endossa o envio de armamento avançado a Kiev, e o indicado da Casa Branca para secretário de Defesa, Ashton B. Carter, disse na semana passada ao comitê de serviços armados do Senado: “Eu me inclino muito nessa direção”.
Eles estão errados. Seguir por esse caminho seria um grande erro para os Estados Unidos, a OTAN e a própria Ucrânia. O envio de armas para a Ucrânia não resgatará seu exército e, em vez disso, levará a uma escalada nos combates. Tal passo é especialmente perigoso porque a Rússia tem milhares de armas nucleares e procura defender um interesse estratégico vital.„
Sete meses depois Mearsheimer deu uma interessante palestra na Universidade de Chicago. O título da palestra foi „Por que a Ucrânia é culpa do Ocidente?“ Este vídeo já foi clicado mais de 27 milhões de vezes até agora, especialmente nos últimos meses. A voz de Mearsheimer tende a se tornar subitamente alta e sombria lá quando ele diz:
„Se você mora perto de uma grande potência como a Rússia, é melhor ouvir atentamente o que essa grande potência considera uma ameaça existencial„.
Então o que nos perguntamos é se a invasão da Ucrânia foi mesmo uma coisa de surpresa ou se isso foi premeditado pelas costumeiras forças dos mandatários do ocidente.
Moscou sempre deixou claro como vê a “obsessão dos EUA” pela adesão da Ucrânia, e desde que Joe Biden assumiu o cargo esta adesão passou a ser forçosamente empurrada para acontecer, e na cúpula da OTAN de 2021 em Bruxelas esta adesão foi reafirmada. Então Putin afirmou que tal adesão é vista como uma linha vermelha, cujo cruzamento traria consequências, custe o que custar.
Os mandatários queriam integrar a Ucrânia na OTAN, não importando a que custos. Os russos, na época, disseram categoricamente que isso seria inaceitável para eles. Eles deixaram claro que tinham engolido as duas primeiras parcelas da expansão da OTAN – a expansão de 1999 e a de 2004 – mas a Geórgia e a Ucrânia não fariam parte da OTAN. Putin disse que esta seria uma ameaça existencial para o povo russo, e não demorou muito; em Agosto de 2008 uma guerra realmente estourou entre os russos e os georgianos sob a questão da adesão da Geórgia à OTAN.
Os pilares da política dos mandatários do ocidente para com a Ucrânia
O pilar mais importante foi a integração da Ucrânia na OTAN. Os outros dois pilares foram a integração da Ucrânia na União Européia e a transformação da Ucrânia em uma democracia liberal pró-ocidental, ou seja, a implementação da Revolução Laranja de 2004/2005.
Esses três pilares da estratégia visavam transformar a Ucrânia em um país pró-ocidental, um país na órbita do Ocidente, diretamente na fronteira com a Rússia. Os russos deixaram absolutamente claro na época que isso não iria acontecer. A tentativa de implementação desses pilares levou a duas crises: a primeira crise eclodiu em Fevereiro de 2014, a segunda em Dezembro de 2021. A guerra finalmente começou em 24 de fevereiro de 2022.
Os mandatários do ocidente unidos contra a Rússia
Os EUA juntamente com alguns países da UE colocaram Putin numa posição difícil. Expandiram a NATO e as fronteiras da UE até as fronteiras da Rússia e promoveram a Revolução Laranja na Ucrânia (para instalar um novo regime democrático, pro-ocidente). Essas expansões foram feitas sob o argumento de que estavam promovendo a democracia. Na verdade sabe-se que se trata de uma expansão da influência dos costumeiros mandatários do mundo que hoje não mais acontece sob a forma de um regime monárquico, mas sob a forma de um regime democrático estruturado politicamente como de costume e com muito poder econômico. Rússia e China vêem tal promoção da democracia como algo que é feito para derrubar seus sistemas políticos, seus governos, e no lugar deles colocar algo que harmonize com a política democrática no estilo dos costumeiros mandatários. Uma antiga maneira de se fazer negócios políticos internacionais que promove a riqueza de poucos e muita corrupção e pobreza em muitos países.
Mearsheimer disse em 2015 em seu artigo „Não arme a Ucrânia“: „Grandes potências reagem duramente quando rivais distantes projetam poder militar em sua vizinhança, muito menos tentariam fazer de um país em sua fronteira um aliado. É por isso que os Estados Unidos têm a Doutrina Monroe, e hoje nenhum líder americano toleraria que o Canadá ou o México se juntassem a uma aliança militar liderada por outra grande potência„
A Rússia se esforçou diplomaticamente, mas foi coagida a fazer guerra
A Ucrânia estava, de fato, se tornando um membro da UE e da OTAN. Por anos os EUA a têm inundado com armas, know-how militar e dinheiro, enquanto toda oferta do Kremlin para encontrar um compromisso não teve consequências positivas. Os próprios EUA, tanto no passado, quanto na atualidade e no futuro jamais aceitarão nas suas fronteiras presença militar de outras grandes potências?
Mas, afinal, o que importa na antiga e atual forma de fazer negócios políticos internacionais, onde mentir e enganar são regras fundamentais? A única coisa que importa é a verdade do poder estabelecido pelos mandatários (de sempre); e quando se fala em promover a paz e valores democráticos através da diplomacia e, em última instância, através de guerra, pensa-se em promover o próprio poder a todo custo. Usa-se esses termos bonitos para agir conforme os próprios interesses e não conforme os interesses de paz e prosperidade de todos. Assim foi na América Latina e no Oriente Médio, a democracia tornou-se um instrumento de manutenção e expansão de poder de elites econômicas que regem políticas de governantes materialistas a serviço do poder de tais elites em seus respectivos países. Porém, no momento, os mandatários do ocidente estão sendo confrontado com o uso da guerra (Rússia) como última instância em defesa da democracia (russa). Não é a guerra um instrumento que se usa quando a diplomacia falha?! E tal reação russa coloca a qualidade de vida da massa popular nos países onde vivemos em risco de deterioração.
Para finalizar, mais uma de Mearsheimer no dia 08.02.2015 em seu artigo „Não arme a Ucrânia.
„A possibilidade de Putin acabar fazendo ameaças nucleares pode parecer remota, mas se o objetivo de armar a Ucrânia é aumentar os custos da interferência russa e eventualmente colocar Moscou em uma situação aguda, isso não pode ser descartado. Se a pressão ocidental for bem-sucedida e Putin se sentir desesperado, ele terá um poderoso incentivo para tentar resgatar a situação sacudindo o sabre nuclear.“
Trabalhar incansavelmente com a verdade e buscar uma nova forma de competição entre as nações deve ser o princípio que rege as relações internacionais
Quantas vidas já foram destruídas e quantas estão sendo destruidas nesta guerra e noutras guerras, por exemplo na África, equanto escrevo esse artigo? A competição entre as naçōes precisa ser regulamentada de alguma maneira. A humanidade precisa evoluir para essa esfera de convivência mais condizente com as necessidades humanas. A forma da atual competição entre as naçōes é fruto da cobiça das elites econômicas que influenciam a política de governos.
Trabalhar dentro do contexto da verdade ajudaria a mudar a já exagerada cultura da mentira, falsidade e corrupção, melhoraria a realidade da convivência internacional e eliminaria a pobreza. A revolução pela verdade, um dia, se acontecer, somente poderá ter força se a massa popular a desejar de verdade, bem mesmo assim como a massa de gente sofrida o fez durante a política dos regimes monárquicos na Europa. Se não fosse a massa popular ter dado um basta, as monarquias vontinuariam reinando de forma absoluta. Aqui se destaca o exemplo dado pela massa de gente simples e sofrida que desencadeou a revolução por Liberdade, Igualdade e Fraternidade (Revolução Francesa), esta que acabou com a maldade dos regimes monárquicos facilitando a ascensão da democracia e do direito à liberdade individual e dos direitos humanos em toda a Europa e que depois se espalhou pelo mundo. Agora está na hora de acabar com a política malvada da indústria da corrupção, mentira, falsidade e da geração de pobreza.
Se substituiu-se a monarquia pela democracia, onde governa-se a partir da vontade do povo, através dele e para ele, então essa competição entre as nações fundamentadas em mentiras, falsidades, corrupção e pobreza seria então nossa vontade. Está passando da hora.
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Quem é John J. Mearsheimer?
John Joseph Mearsheimer (nascido em 14 de Dezembro de 1947 em Brooklyn, Nova York) é um cientista político estadunidense da Universidade de Chicago. Ele lida principalmente com relações internacionais. Em 2001, ele ficou conhecido por seu livro sobre neorrealismo ofensivo, The Tragedy of Great Power Politics. Mearsheimer é coautor do best-seller do New York Times The Israel Lobby e U.S. Política Externa (2007). Sua publicação de 2011 Why Leaders Lie: The Truth About Lying in International Politics categoriza as „mentiras que os estados contam uns aos outros“. De acordo com uma entrevista com Mearsheimer no The Boston Globe o ensinamento do livro é o seguinte: „Minta seletivamente, minta bem e faça o melhor que puder.
Aos 17 anos, Mearsheimer se alistou no exército. Depois de um ano decidiu frequentar a academia militar em West Point, onde permaneceu de 1966 a 1970. No verão de 1970 casou-se com Mary T. Cobb. Do casamento vieram uma filha e dois filhos. Depois de se formar em 1970, ele serviu cinco anos como oficial da Força Aérea.
Durante este tempo, ele obteve um mestrado em Relações Internacionais pela University of Southern California. Ele então estudou na Universidade de Cornell, obtendo seu Ph.D. em Governo com foco especial em Relações Internacionais. De 1978 a 1979 trabalhou como pesquisador na Brookings Institution em Washington, D.C.; de 1980 a 1982 foi assistente do Centro de Assuntos Internacionais da Universidade de Harvard. De 1998 a 1999 foi membro da equipe do Conselho de Relações Exteriores em Nova York.
Desde 1982, Mearsheimer é membro do corpo docente de ciências políticas da Universidade de Chicago. Tornou-se professor associado em 1984, ordenado professor em 1987 e foi promovido a R. Wendell Harrison Distinguished Service Professor. De 1989 a 1992 foi chefe do departamento de ciência política. Ele também é membro do corpo docente do programa de pós-graduação e diretor associado do programa de Política de Segurança Internacional.
Ele é um „hardcore realist“, ou seja, um tipo de estudioso que se atém aos fatos, talvez por isso é desprezado no ocidente, mas uma estrela na China.
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Fontes:
Don’t Arm Ukraine, by John J. Mearsheimer, The New York Times, Feb. 8, 2015
Getting Ukraine Wrong, by John J. Mearsheimer, The New York Times, Sept. 24, 1996
Link para a palestra de Mearsheimer na Universidade de Chicago em 2015 sob o título „Por que a Ucrânia é culpa do Ocidente?“ (Why is Ukraine the West’s Fault?)
U.S. Considers Supplying Arms to Ukraine Forces, Officials Say: https://www.nytimes.com/2015/02/02/world/us-taking-a-fresh-look-at-arming-kiev-forces.html
U.S. plans to train, arm Ukraine national guard in 2015: https://www.reuters.com/article/uk-ukraine-crisis-usa-training-idAFKBN0G157020140801
Geopolitics and the eastern enlargement of the European Union. Lars S . Skalnes. In The Politics of European Union Enlargement, 2005.
Constructing institutional interests: EU and NATO enlargement. Karin M. Fierke and Antje Wiener. In The Politics of European Union Enlargement, 2005.
Eastern enlargement: risk, rationality and role-compliance. Ulrich Sedelmeier. In The Politics of European Union Enlargement, 2005.