Executivos de serviços públicos alemães como os de fornecimento de energia, estes que defendem a Energiewende, ou seja, o abastecimento a longo prazo da economia e da sociedade com energia, como a electricidade e o calor, proveniente de fontes utilizáveis de forma sustentável, renováveis ou regenerativas (energias renováveis) estão começando a entrar em pânico. E com eles grande maioria dos executivos da Alemanha, pois a economia alemã é altamente dependente de energia cujas fontes estão em poder de parceiros externo, exemplo Rússia.
O fornecimento de energia da Alemanha já atingiu várias vezes desde o início da guerra russo-ucraniana seus limites máximos e isso fêz aumentar substancialmente o preço da eletricidade. Esses preços muito altos são uma indicação absolutamente certa do estado de insegurança do fornecimento de energia na Alemanha. Eles são o resultado da escassez de fornecimento.
O CEO da RWE AG, Markus Krebber, em um artigo no LinkedIn no mês de Novembro de 2024 falou o seguinte: „… na Alemanha (por anos) temos agido como se a questão de adicionar energia garantida fosse algo que pode ser adiado. Já podemos ver muito claramente hoje o que acontece quando a energia é desligada e nenhum backup é fornecido para renováveis. Não, não temos mais tempo, muito pelo contrário. O tempo está se esgotando e a expansão é urgente – e não apenas desde este mês.“
O país enfrenta os problemas decorrentes do gás mais caro, se abala com a cara agenda de reformas verdes e debate ao mesmo tempo a forma tóxica sobre migração, um tema muito antigo do pós-guerra alemão que vem gerando partidos de extrema direita de cunho alemão (história da cultura nacionalista alemã).
Eu sempre viajei muito para fora da Alemanha, onde moro desde 1983. Eu sempre percebi um tanto decepcionado que a Alemanha gosta de tirar proveito da falsa imagem que ela fortemente construiu no exterior. Eu digo „decepcionado“ porque eu suspeitava fortemente que essa verdade de mentirinha iria nos levar, nós dentro da Alemanha, um dia não muito distante, às beiras do precipício. Logo a Alemanha que é um país de povo com forte desenvolvimento e uso da razão se satisfez por décadas com mentirinhas de grandeza absoluta. Porém a realidade não se deixar deter por verdades-mentirinhas. Hoje vemos a Alemanha se desmoronar em campos-chaves de suas frágeis vantagens competitivo-comparativas enquanto no exterior ela ainda é uma estrela de forte brilho, mas ao que tudo indica trata-se somente do brilho de uma estrela outrora existente. De que isso irá adiantará ao país?
A Alemanha economicamente próspera, socialmente coesa e politicamente estável já não mais existe como a que conhecíamos, e isto é uma fato que nos entristece, a mim pessoalmente. Eu sou um imigrante brasileiro que muito deve à Alemanha, pois enquanto meu país me expulsava com sistemáticos surtos de corrupção nos seus três poderes, falta de segurança nas ruas, péssimos serviços públicos de saúde e de educação, eu batalhei na Alemanha e consegui ter acesso à todos estes serviços de excelente qualidades e então passei a viver na Alemanha. Hoje tais serviços, que eu considero diamantes públicos, estão perdendo a qualidade e eu muito que gostaria de contribuir para salvar-los para a posteridade.
O governo de coalisão se desmoronou e as eleições federais que iam acontecer em Outubro de 2025 foram antecipadas para o dia 23.02.2024.
O processo de desmoronamento da Alemanha foi lento e já dura há décadas. Eu o acompanhei de perto, como cidadão alemão (pelo passaporte), como membro de um partido de governos passados e da atualidade e como um ser político que deseja ajudar meu segundo país a se reinventar de forma moderna para enfrentar seu destino na Europa e no mundo.
Políticos incompetentes governaram a Alemanha de forma preguiçosa e irresponsável, pois sempre acreditavam que a economia de exportação iria dar um jeito em todo desabamento oriundo da i incompetência da política federal, e era assim mesmo que acontecia lá pelas décadas de 80 e 90. Nestas décadas a economia acabava neutralizando os más resultados do trabalho político que basicamente se limitava a ser relações exteriores e ajudante de obra da economia alemã internacional e nacional, internamente o governo distribuía subsídios para os segmentos elitários e dava esmolas aos cidadãos no país (programas sociais, mas sem consertar o mercado interno para gerar empregos que possibilitasse o povo a gerar um pequeno patrimônio).
Mas ainda na década de 90 os sinais negativos de que os problemas iriam se acentuar se não fossem levados a sério estavam se tornando muito evidentes.
- Crescimento demográfico negativo: políticos em busca de votos e não de solução para os problemas continuaram alimentando o Deutschtum (germanidade) na alma de seus eleitores, principalmente os partidos CDU, CSU e FDP, partidos que governaram a Alemanha por vários anos em coalisão. A cultura precisava de um solavanco que somente veio em 2015 quando Angela Merkel escancarou as fronteiras para quem quisesse se refugiar na Alemanha sem critério de escolha, porquê todos os esforços feitos pela Alemanha para atrair pessoal qualificado não funcionou. Em 2015 gente do mundo islâmico adentrou o país com força total. As culturas se mesclaram sem o devido cuidado com a confrontação de culturas tão distintas.
- Pouquíssimos ricos e muitos assalariados. Se partirmos do princípio de que a Alemanha é um estado de direito, assim como ela mesma gosta de se auto-propagar, os poucos que conseguiram formar uma respeitosa fortuna o fizeram de forma legal. Os outros milhões de cidadãos na Alemanha que não conseguiram construir um patrimônio e que precisam do salário para viver, permanecem nesta situação também dentro dos direitos do estado. O problema é que foram esses governos de coalisão (quase sempre o meso grupinho) foram os responsáveis pelo política de construção de condições-chave para que bem poucos ficassem muito ricos e bem muitos ficassem assalariados. A pobreza se espalha na Alemanha como nunca havia acontecido no pós-guerra. E as elites se fortaleceram em todos os segmentos do Estado, inclusive no setor acadêmico onde fazer carreira era coisa de elite e seus aliados.
- A economia alemã é de tecnologia ultrapassada. A locomotiva desta indústria está perdendo terreno também no exterior. A Volkswagen está implementando um plano drástico de redução custos que poderá afetar até 30.000 funcionários. A mídia fala que ela irá fechar 3 fábricas na Alemanha. À VW se alinha outras outrora potentes indústrias.
- Políticos preguiçosos e sem talento para planejamento estratégico: por anos levaram tudo à frente com suas barrigas bem engordadas e seus bolsos cheios de um excelente salário como funcionários públicos em cargos eletivos. Como eles mesmo nunca sofrem com o resultado de suas desastrosas políticas, eles aprenderam a enganar o povo com esperanças e com esmolas públicas (as bolsas-famílias do governo alemão, hoje „Bürgergeld“, etc.). Coisa muito parecida com o Brasil e seus políticos. Tais políticos, sempre com gordas contas de consultoria especializada, ignoraram as características do país e se meteram em política de imperialismo econômico causando rancores para um futuro da Alemanha num mundo onde ela mais precisa de bons parceiros do que tais bons parceiros precisam dela.
- A Alemanha com sua industria Siemens se prestou a fundar juntamente com os EUA uma empresa suiça para vender uma máquina de criptografia de tecnologia de ponta que custava uma fortuna. Por décadas os serviço secreto alemão e dos EUA com ajuda da Siemens alemã espionaram centenas de parceiros, dentre eles o Brasil, pois a tal máquina de criptografia tinha uma porta dos fundos embutida na mesma cuja chave era usada pela Alemanha e pelos EUA. Eles compravam a preço de ouro e ainda eram espionados com ajuda da mesma máquina. Foi o Irã quem deu o pontapé de desconfiança desse negócio e tudo foi descoberto em Fevereiro de 2020, o ano em que a pandemia começou a assolar o mundo e o tema foi abafado até o esquecimento.
- A Alemanha com sua forte cultura Deutschtum (germanidade) e cultura de imperialismo econômico também calculou mal ao afugentar por décadas mulheres de estrangeiros que visitavam suas universidades e queriam continuar a morar no país, mas foram gentilmente colocados em situação de deixar o país, fazendo assim ela verdadeiramente deixar de atrair talentos estrangeiros num tempo que que sua estrela que hoje brilha de mentirinha no exterior, era de forte e de verdadeiro brilho, pois dentro do país as coisas funcionavam a pujança industrial, científica, acadêmica, social, etc..
- Ela também calculou errado ao ignorar que seu tamanho minúsculo, sua relativa pobreza em matéria-prima de primeira necessidade e sua dependência por parceiros externos no mesmo solo que ela se localiza, como a Rússia, fossem se deixar intimidar com sua mania de querer ensinar outros países quais são os valores que eles devem crês e manter. Comportamento esse que é bem antigo de sua cultura, pois já seu imperador Wilhelm II, costumava pregar que o mundo deveria se curar através do caráter alemão („am deutschen Wesen soll die Welt genesen“). Ela ignorou o fato de que quem depende de mercado externo precisa saber se relacionar sempre de maneira pacífica e extremamente verdadeira com seus bons parceiros, parceiros esses que jamais esquecerão que ela os espionou na década de 70 e 80 para tirar vantagens econômicas dessas amizades.
- A Rússia hoje está separada da rede de boas relações da Alemanha. A Alemanha e seus políticos subserviente dos EUA vão ter que enfrentar um ano eleitoral em que a economia alemã apresentou por décadas um crescimento líquido por volta de somente 1% ao ano enquanto outras economias da Europa crescerem mais do que ela; nos últimos dois anos o crescimento da economia alemã foi até mesmo negativo, o Estado está altamente endividado e as importações de gás-natural lhes custa uma fortuna, o que torna a vida para os cidadãos comuns ainda mais cara e difícil.
A Alemanha precisa urgentemente solucionar seu problema de energia e de demografia, pois sem essas soluções ela vai perder indústrias e pessoal qualificado existente, as falências comerciais vão continuar e tudo vai se desmoronar mais rapidamente ainda, sem que ela possa se reinventar. A vida se tornará ainda mais complicada em termos de serviços pessoais no dia-a-dia (geralmente de má qualidade) e profissionais do exterior que venham morar na Alemanha, irão abandonar-la em pouco tempo quando descobrirem como estão suas explosivas entranhas.
