31 views 41 mins 0 comments

A situação russo-ucraniana e a múltipla moral do negócio

In EM PORT.-BRASIL
März 22, 2022

Comparando a situação russo-ucraniana com outras semelhantes na Europa, pergunta-se por que as superpotências européias estão tão interessadas em punir a Rússia e o povo russo com tanta severidade, deixar a Rússia se desgastar ao longo do conflito ao invés de empoderar a Ucrânia de uma só vêz para se defender da invasão russa e logo acabar com o conflito evitando assim danos maiores não somente para a Ucrânia e para a Rússia, mas para todos os países envolvidos no comércio internacional com esses dois países?

Situaçãoes semelhantes às desse conflito nos ajudam a entender o todo um pouco melhor. Vamos nos servir de uma parte da história.

Vejamos a Córsega: a Córsega era mesmo um país soberano com uma constituição moderna (1729 a 1769), depois veio a França, acreditando ter o direito de ocupar a Córsega, assim sendo a anexou ao seu país. Seguiram-se séculos de conflitos entre o povo da minúscula Córsega e o poderoso estado francês. Somente nos dias de hoje, em 2022, os descendentes dos combatentes córsegos pela liberdade de sua terra ganharão um pouco mais de autonomia. Na atualidade o governo francês negocia tal autonomia com a Córsega.

E o arquipélago das Malvinas? Às portas da Argentina. Esta situação pode ser comparada com a história da Rússia e da Ucrânia? Ninguém quer saber. A Inglaterra faz parte do G7, o grupo de países que ditaram as regras do jogo desde as décadas do pós-II Guerra mundial, e ainda o fazem.

Mas o caso do Chipre do Norte? Em 1974, os turcos ocuparam o Norte de Chipre e daí fundaram a República Turca do Norte do Chipre, que até hoje não foi reconhecida pela chamada comunidade mundial internacional, nenhum país reconhece tal república turca, mas a ocupação permanece. Essa invasão e a criação de um novo estado turco nunca provocaram uma indignação como agora no caso contra a Rússia, e nem ninguém se uniu para ajudar o Chipre do Norte como merecidamente o estão fazendo no momento pela Ucrânia.

Vídeo sobre a invasão turca >>>

Fonte da imagem: wikipedia

E se procurarmos por mais focos de conflitos semelhantes na Europa, poderemos encontrá-los facilmente: o caso dos Bascos na Espanha, a questão irlandesa, etc. São todos países minúsculos, inseridos no contexto de nações poderosas. A gente pode ser levado a pensar que tais países são mal agradecidos, pois estão inseridos em territórios de nações economicamente poderosas. Mas a situação não pode ser analisada somente pelo prisma da econômia, o aspecto cultural é bem mais forte. Mesmo depois de centenas de anos convivendo dentro desses poderosos países, como parte nacional deles, os povos dessas micro-regiões querem a própria autonomia para manter a própria cultura, seu idioma, costumes e formular seus prórpios objetivos. Já Napoleão Bonaparte reconheceu que o uso do sentimento nacional é mais poderoso do que todo um exército, e foi o descuido dele mesmo para com o sentimento nacional, que o levou ao fracasso.

Por quê todos estão contra a Rússia?

Irlanda do Norte, Córsega, Chipre do Norte, Ucrânia e Rússia. Fonte do mapa: Wikipedia

As potências européias pregam que nenhum país tem o direito de invadir, seja por qual maneira ou por qual motivo, um outro país soberano, ou seja, um país reconhecido como soberando. Isso é correto e está na Carta da ONU, mas nem mesmo precisaria estar em constituição alguma, pois é um mandamento da paz, semelhante ao mandamento da vida (nada justifica matar um ser humano, a não ser em legítima defesa). Não se invade um país soberano. Esta é uma verdade absoluta.

Agora que a Rússia invadiu a Ucrânia, ela sofrerá o repúdio das nações pacíficas. Até aqui tudo em ordem. Mas a pergunta que vem a tona, é por que tais nações que hoje se colocam a favor da Ucrânia e contra a Rússia, não agiram assim nos outros conflitos europeus, alguns deles perdurando já por centenas de anos e na era de pós-guerra mundiais, de uma ONU, numa era de respeito aos direitos humanos, numa era de „correção“ de erros passados, etc.? Não se pode deixar de ter a impressão de que as potências européias punem a Rússia não principalmente por causa da injusta invasão da Ucrânia por ela, mas por outras causas.

A Rússia nunca quis e não quer o tipo de associação que os poderosos do ocidente a oferecem e insistem em lhe oferecer desde 1991. A Rússia vai sempre se empenhar para desenvolver seus enormes potenciais econômicos uma vêz desenvolvidos, ela vai querer o lugar dele no rol dos poderosos. Porém, a poderosa Rússia, rica em ouro, petróleo e gás natural, parece não ter outra opção a não ser encontrar um meio de não se submeter às regras dos mesmos países que uma vêz (dec. anos 90), quando ela estava se democratizando e se tornando capitalista, a abandonaram – ou seja, se defender das insistências diplomáticas do ocidente.

O petróleo e o gás natural são os dois recursos naturais que mais geraram cobiças e consequentemente guerras no século 20, e nestas guerras as nações destruídas foram as nações que possuem tais recursos em abundância e os vendem ao ocidente. As nações vencedoras foras as que fizeram as guerras e muitas vezes a iniciaram sob pretextos falsificados por elas mesmas para justificar suas guerras contra as nações que possuem os recursos naturais que elas cobiçam: petróleo e gás natural. O petróleo e o gás natural da Rússia mantém o poder de várias nações da Europa, eles tornam o preço de produtos europeus competitivos no mercado global e possibilitam um lucro alto dessas industrias. No momento, os poderosos da Europa vão comprar gás natural de outros fornecedores noutros continentes. Porém isso não é solução duradoura como opção para desistir dos gás natural da Rússia. O fornecimento desses recursos ate as portas das industrias européias tornará seus produtos mais caros e jogará mais carbono na atmosfera. Todos os países da Europa precisam desses recursos naturais da Rússia, ela sempre soube disso e conhece bem o risco que corre possuíndo recursos tão cobiçados. Se esta guerra durar mais tempo, as medidas contra a Rússia vão se trornar mais severas ainda. Ela vai sempre pagar um alto preço por não se aliar com e ao gosto de determinados países do ocidente.

Por décadas, na verdade desde 1991, quando a UdSSR se dissolveu, a OTAN e a UE vem se alastrando em direção à Rússia e o estado russo se comportando de certo modo desesperado, pois sentindo-se ameaçado e observando o bombardeio da mídia ocidental detonando a imagem de seus lideres, teme que seu povo sofra uma lavagem cerebral e auto-destrua a milenar cultura que define a alma russa. Putin tolerou é resistiu às diversas fases de expansão da OTAN. Enquanto não tocavam seriamente no relacionamento entre a Ucrânia e a Rússia, a situação era tolerada diplomaticamente pela Rússia.

Desde 1991 que a Ucrânia se tornou peão de jogo de xadrez da Rússia e da UE/OTAN, e desde então, usando o instrumento da democracia, candidatos pro Rússia e pro EU/OTAN disputaramentre si eleiçãos presidenciais e parlamentares na Ucrânia. Quando um ganhava, o outro da oposição de tudo fazia para desestabilizar a política interna ucraniana. Sendo assim, a Ucrânia nunca esteve verdadeiramente em paz, pois tem sido objeto de disputa desses dois blocos de interesse econômico: Rússia e UE. Chegou um momento eu que os alertas de Moscou foram ignorados, a diplomacia facrassou, todos os alertas de Putin, principalmente desde 2018/19 foram diplomaticamente ignorados. Nos EUA, enquanto Trump estava no poder, a UE/OTAN não obtivera apoio para uma política contra a Rússia. Mas quando Biden chegou ao poder, Putin se viu sozinho e o risco para a Rússia havia crescido. Putin percebeu que o ataque seria a melhor maneira de proteger os interesses russos contra os interesses da UE/OTAN. Entender um pouco da história Russo-Ucrâniana é importante!

Os acontecimentos históricos, quando interligados, incitam nossa imaginação a pensar que usa-se da injustiça cometida contra o povo ucrâniano pelos Russos não principalmente por uma razão humana, mas sobretudo econômica. Em situações semelhantes na história européia dos recentes conflitos europeus, nem mesmo o quarto poder das democracias européias (a mídia) agiu para pressionar seus estados para desencadear medidas como o fazem agora no caso da invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Rússia argumenta que atacou para se defender, porém não de um ataque da Ucrânia, mas dos „ataques“ a seus interesses na região (vêr história da geopolitica do ocidente para com o oriente médio do petróleo)

Uma questão de segurança internacional emerge em função de uma ameaça existencial para determinado objeto, comumente o Estado e seus componentes sociais e territoriais. A identificação desta ameaça justifica a adoção de medidas extraordinárias, legitimando o uso da força e abrindo espaço para maior concentração de poder no Estado para lidar com a ameaça. Propõem-se que a ameaça existencial só pode ser compreendida em relação ao objeto de referência, que varia de acordo com o nível de análise e de acordo com os setores considerados, demandando uma investigação da natureza da ameaça existencial“ (Fonte: People, States and Fear: the national security problem in internacional relations. B. BUZAN. Brighton: Wheatsheaf Book, 1983).

A Rússia é um dos maiores líderes mundiais em produção de recursos energéticos primários, estando apenas atrás da China e dos Estados Unidos, e é conhecida por sua privilegiada posição geográfica para a producação de gás natural. O país detém a maior reserva de gás natural no mundo e só perde em produção para os Estado Unidos. Mas, por outro lado, a Rússia ainda é a maior exportadora global de gás natural. O setor industrial energético é um dos principais da economia russa, o que faz do país um líder global em exportação de energia e, ao mesmo tempo, um dos maiores consumidores mundiais, devido as necessidade de seu mercado doméstico“ (Fonte: The Geopolitics of Russian Natural Gas. Tatiana MITROVA. The James A. Baker III, Institute for Public Policy of Rice University, Houston, February 2014)

Cada país possui um sistema democrático, que funciona de acôrdo com a respectiva cultura geral do país

Por exemplo, a Rússia: dada a importância do setor energético para sua economia, as decisões mais cruciais que o envolvem são tomadas pelo Estado em seus mais altos cargos. Essa centralização funciona especialmente para a indústria de óleo e gás, por serem de tamanha valia para o governo e pela contribuição ao rendimentos públicos. Todas as decisões relacionadas a tais setores são tomadas pelo Presidente Vladimir Putin e, sob sua tutela, ministros e outros secretarias executivas do Estados que trabalham na elaboração de políticas para garantir não só a estabilidade, mas o crescimento do setor, que desde 2008 é negativamente atingido por subsequentes crises econômicas de âmbito global. Como é do conhecimento de muitos, de acôrdo com a escola de Copenhagen (Copenhagen Peace Research Institute (COPRI), fundado em 1985), o poder político de uma nação emana de seu poder econômico. Cada país cuida de seu jeito de suas galinhas dos ovos de ouro.

A Rússia não funciona de acôrdo com a cultura de muitos países do ocidente, e é criticada por isso, pois esta é uma forma de pressão de alguns países do ocidente. Alguns anos atrás eu estava em Chicago/EUA conversando com um grupo de jovens homens e mulheres russas, colegas de trabalho. Unanimemente eles afirmaram que um líder de estado russo precisa demonstrar que sabe se comportar como um patriarca. Se Putin fosse como um Obama ou outro líder do ocidente, os russos não o respeitariam. Aqui na Alemanha, eu venho constantemente testando essa tese quando converso com russos. Esta tese se mostra ser verdadeira, apesar de Putin ter lá seus críticos.

A cultura russa é que dita como o estado é estruturado e seu sistema democrático de gestão política funciona

Quando em 1991 a Rússia deixou de ser comunista, ela precisou assumir a dívida pública de antigos estados que se tornaram independentes (ex. Ucrânia) e ainda precisou tomar empréstimos caros no ocidente para se modernizar. Ela precisou aprender a ser democrática e capitalista. Para tanto ela buscou ajuda dos EUA e de alguns países europeus. Em alguns textos especializados se lê que ela foi deixada de lado com seus problemas e dívidas, pois não queria seguir a linha de capitalismo e de democracia dos EUA. Também nesta situação de extrema fraqueza, de muitos erros e acertos, combatendo interesses de grupos corruptos, ela soube se erguer economicamente e politicamente. Ela precisou se tornar uma Rússia democrático-capitalista nos moldes russos.

A Rússia sabendo que historicamente seus recursos naturais sempre foram muito cobiçados por super-potências européias, principalmente depois da revolução industrial, sentia-se confrontada com uma constante ameaça existencial e, conforme a vasta maioria dos cientistas de relações internacionais, ex. B. BUZAN em seu livro citado acima, a identificação desta ameaça justifica a adoção de medidas extraordinárias, legitimando o uso da força e abrindo espaço para maior concentração de poder no Estado para lidar com a ameaça. A história está repleta de casos de países que precisaram agir assim em defesa do Estado e seus componentes sociais e territoriais. Isso me faz lembra a Emser Depeche (1870), a reação da França e as consequências que a França teve que sofrer com tal reação. É o conhecimento de tudo isso que faz uma diplomacia ser de boa ou de baixa qualidade. A UE e a OTAN conhecem os valores russos, mas mesmo assim deixaram a diplomacia fracassar para fazer a Rússia se sentir ameaçada e coagida a ponto de adotar medidas extraordinárias, legitimando o uso da força. A guerra traz problemas, mas em seguida ela traz excelentes negócios para os países de voz altiva no poder global.

As nações pelas quais a Rússia se sente ameaçada dominam a indústria da manipulação de opinião no ocidente (a mídia) e assim o verdadeiro conhecimento da causa russa fica restrito a poucos. A massa de populares se informa e orienta o seu pensar através de jornais, leituras de cabeçalhos de matérias jornalísticas, etc. do ocidente. Assim fica muito fácil formar opinião, apresentar uma Rússia violenta, com um presidente sádico e uma Ucrânia vítima do sádico Putin que um dia poderá até mesmo vir a ser julgado e condenado pela invasão da Ucrânia.

„A Polyus, maior mineradora de ouro da Rússia, disse que seu depósito inexplorado Sukhoi Log, na Sibéria, contém as maiores reservas do mundo. Uma auditoria mostrou que o Sukhoi Log tem 40 milhões de onças de reservas comprovadas, segundo os padrões internacionais JORC, com teor médio de ouro de 2,3 gramas por tonelada, disse o diretor-presidente da empresa, Pavel“. Fonte: Associação Brasileira dos Metais Preciosos Link>>>

A Rússia significa muito para as superpotências da Europa Ocidental

A Rússia persegue os mesmos objetivos de poder que todos os países do mundo são obrigados a perseguirem quando possuem enormes potenciais econômicos e recursos naturais que outros países precisam. Poder econômico e poder de influência política são objetivos naturais de todas as nações nesse sistema econômico que rege o mundo. A Rússia tem potencial de sobra para permanecer sozinha fazendo a gestão do jogo econômico e de poder na Europa. E ela certamente não vai desistir disso. A Alemanha faria o mesmo, a França e Grã-Bretanha o fariam também se possuíssem um território e riquezas naturais como a Rússia os possui. Como já vimos mais acima, a Europa continua repleta de conflitos. Mas no momento o que mais interessa e causa pânico é que a Rússia quer se tornar uma super-potência e pode assim desenvolver um poder político sob a Europa ocidental ainda não visto na história. Isso incomoda pois implicará na perda de poder de outras nações européias historicamente poderosas, mas sem os recursos naturais para manterem suas economias fortes. A Rússia precisa errar continuadamente para os países poderosos da Europa poderem usar tal verdade para fazer justiça.

O objetivo mais importante da verdade é a justiça

Sabedoria popular

Abaixo um trecho de um documento do Parlamento da UE que está publicado em sua página de internet (última consulta no mesmo: 28.03.2022)

Desde 2014 a UE vem ampliando regularmente as sanções contra a Rússia. A UE e a Rússia permanecem altamente interdependentes e a UE adota uma abordagem de “engajamento seletivo”.

„Antes da eclosão da crise na Ucrânia, a UE e a Rússia tinham estabelecido uma „parceria estratégica“ abrangendo, entre outros, questões comerciais, econômicas, energéticas, questões climáticas, pesquisa, educação, cultura e segurança, incluindo o combate ao terrorismo, a não proliferação nuclear e resolução de conflitos no Oriente Médio.

UE, Parlamento Europeu

„A adesão da Rússia à OMC, que ocorreu em 2012, foi fortemente apoiada pela UE. Durante vários anos, a questão da vizinhança comum tornou-se cada vez mais um ponto de atrito entre a UE e a Rússia. A anexação ilegal da Crimeia pela Rússia em março de 2014 e o aparente apoio da Rússia aos rebeldes no leste da Ucrânia desencadearam uma crise internacional. A UE respondeu revendo as suas relações bilaterais com a Rússia, suspendendo os encontros bilaterais regulares a nível de alto escalão, o diálogo sobre questões de vistos e conversações sobre um novo acordo bilateral para substituir o Acordo de Parceria e Cooperação. A UE atualmente passou a adotar uma abordagem dupla em relação à Rússia, combinando sanções que sucessivamente são impostas como esforço para encontrar soluções diplomáticas para o conflito no leste da Ucrânia.“

UE, Parlamento Europeu

Leia também Entender um pouco da história Russo-Ucrâniana é importante!

Obs.: A tradução foi feita pelo Alltimes News, pois o texto em português da UE precisou ser alterado para leitores brasileiros. Eis o texto em português da UE >>>

Para quem ler o texto completo de onde retiramos os patrágrafos acima, fica claro que a UE desde 2014 estava sucessivamente impondo e expandindo sanções contra a Rússia. O que não consta nesse texto é que em paralelo às sanções, a OTAN estava avançado com sua extenção militar em direção à Rússia e já estava de olho na Ucrânia, mesmo sabendo das implicações desta ambiação. É como se estivessem premeditando uma reação desesperada da Rússia, ssim como aconteceu em 2014 e agora em Fevereiro de 2022. Desejam Putin fora do poder, pois ele é muito pro Rússia.

A questão econômica impera nas decisões geopolíticas de todo país

Depois de 1945, no âmbito da ambição pelo poder de influência política sob países soberanos, substituíu-se a invasão territorial armada pela invasão capitalista, pelo domínio financeiro e econômico dos mercados e posse legal (contratual) das riquezas do subsolo de de tais países. Desde 1977 sobretudo o G7 liderou os destinos da economia mundial e influenciou em seu benefício também o destino de muitas economias nacionais no planeta. Seus produtos e sua cultura foram inseridos nos mercados e na cultura de consumo de quase todos os países do mundo, expandiu-se o lucro, a influência politico-economica e financeira pelo mundo, muitas vêzes sacrificando o bem-estar econômico, e por isso, o bem-estar geral das nações com as quais mantinham negócios.

O Grupo dos Sete (G7) é um fórum político informal das sete principais economias do mundo: USA, Canadá, Alemanha, Japão, França, Grã-Bretanha e Itália. 

Para possuir poder político é necessário possuir poder econômico (Escola de Copenhagen)
Fonte: Ministério das Finanças da Alemanha

A Rússia democrática já possui experiência com o ocidente quando ela estava em processo incial de transformação de seu estado num regime democrático e sua economia num sistema capitalista. Tal experiência e as que se sucederam lhes servem hoje como referência para seu estilo de gestão e sua preferências de alianças geopoliticas. Não somente a Rússia evita o envolvimento estreito numa união com os países do ocidente dominados pelas potências do G7, mas a China também o faz.

Nas ainda não tão distantes décadas de 30 e 40 a China era um país fraco e insignificante, foi invadido e sofreu pelo territorialmente minúsculo Japão. Nas últimas três décadas ela trabalhou arduamente desenvolvendo seus próprios potenciais, cuidadosamente abriu seu mercado interno para empresas do ocidente, controlou acirradamente suas atividades no mesmo, adquiriu conhecimentos, os emprega de forma inteligente e assim tornou-se o verdadeiro gigante que ela ambicionava ser. Porém o fêz do seu jeito, mesmo sofrendo duras críticas pelo ocidente. Se ela fosse uma democracia nos moldes ocidentais, tivesse se submetido aos gostos de potências ocidentais, talvêz ela jamais teria se transformado, em tão curto espaço de tempo, no gigante econômico e competitor na arena global que ela hoje é. Ela sacrificou com trabalho duro um geração de cidadãos chineses para que as gerações futuras pudessem desfrutar de uma China como é a atual. E em todo esse tempo ela manteve sua cultura o mais longe possível da influência ocidental. A China se tornou um gigante sem precisar super-adaptar sua cultura e seu sistema político ao modêlo ocidental (ditado pelo G7 e fortes aliados). A Rússia sonha com a mesma façanha. Mas ela tem a UE como vizinha, uma região lotada de países que agem contra seu sonho.

Como gigante, rica em recursos naturais, a Rússia (a China também) vai ter que desempenhar bem seu papel de super-potência em ascensão ou se tornará um peão nas mãos de pequenos países, mas que possuem um enorme poder politico-econômico e que poderão dominá-la sem nem mesmo precisar ocupar seu território – como tem sido o caso do Brasil, principalmente até 2018.

No momento a Ucrânia recebe ajuda militar em forma de material bélico dos países do ocidente. As medidas de punição da Rússia por países do ocidente se tornaram extremamente pesadas. Querem vêr o povo russo, de todos os níveis sociais, sofrendo na desgraça. A invasão da Ucrânia se tornou uma guerra da Rússia armada militarmente contra a Ucrânia também armada militarnente e seus aliados do ocidente armados com duras e amplas sanções contra o povo russo. Por quê não evitaram que a Rússia tomasse tal medida militar? Os serviços de intelegência da OTAN certamente conheciam a natureza humana de Putin e do povo russo, portanto poderiam ter adaptado a diplomacia para lidar incansavelmente com verdadeira intenção de paz. No mínimo através de matérias jornalísticas esses serviços de inteligência poderiam ter montado o quebra-cabeça de maneira a entender a Rússia no contexto do governo de Putin. Se lhes faltaram fontes adequadas, nos documentários e nos talkshows de TVs o povo russo, sua cultura, bem como Putin e seu estilo de governar nos eram apresentados sistematicamente. Se o negócio era proteger o povo ucraniano, então o que impediu a diplomacia de ser criativa-inovativa a ponto de lidar com a Rússia de forma adequada? Ou a diplomacia dos países da OTAN usou todos os conhecimentos sobre o povo russo, sua cultura no contexto da gestão de Putin para premeditar uma ação brutal dele, pois assim conseguiriam impor mais sanções à Rússia, visto que as sanções que vinham sendo impostas desde 2014 não surtiram o efeito desejado?

Basta se informar nas fontes secundárias de conhecimentos, que estão disponíveis ao público, que se chega a conclusão de que a Rússia jamais teria invadido a Ucrânia se ela não estivesse se sentido coagida a tanto.

Ao que me parece, é que estão sacrificando a Ucrânia como um peão nesse jogo, para forçar a Rússia a se aliar com a Europa ocidental e assim economicamente tornar os países poderosos dessa região ainda mais poderosos, por exemplo, através do fácil acesso ao enorme mercado interno e aos recursos naturais russos, principalmente petróleo e gás natural. Mas esse cálculo já está ultrapassado, pois hoje a Rússia não depende mais de tal aliança. Enquando a UE estava aplicando sanções (desde 2014) na Rússia, tentando enfuaquecê-la, sob o pretexto dela ter que abandonar a Criméia, ela se fortaleceu construíndo novas alianças. A China, sua vizinha, é uma super-potência, e agora também se tornou numa fiel aliada da Rússia. A Ucrânia nunca mais será a mesma depois desta invasão russa. Ela sairá dessa situação com uma tremenda dívida externa e financeiramente totalmente dominada pelos países que no momento a ajudam. A ajuda não tem somente motivo humano, mas principalmente está motivada por motivos econômicos.

Os fins, no final das contas, justificam os meios?

Se poder econômico e político global são os dois motivos pelos quais as nações precisam lutar tanto no campo da diplomacia e tambem no comercial, da espionagem e militar, então a historia continuará se repetindo e tudo vale, desde que bem feito e sabendo manipuar a opinião pública para si.

Antes o poder emanava de Deus, e o poder político estava centrado numa família de um imperador ou rei que se diziam ter sido escolhidos por Deus. Isso aconteceu numa longa era de dominio religioso da cultura das nações. A política se afastou da religião e se aproximou mais do povo à medida em que este litava com sucesso por mais direitos e participação nos negócios políticos e econômicos de suas nações. Hoje o poder político emana do povo e o poder está nas mãos de presidentes, chanceleres ou primeiro-ministros escolhidos democraticamanete pelo povo. Porém a ambição geo-política dos poderosos impérios de outrora permanecem as mesmas, apesar de muitos desses impérios terem perdido seus territórios ricos em recursos naturais. Daí a diplomacia deles possuir uma multipla moral. Com ajuda da mídia criam suas verdades para manipular a opinição do povo, este que está sempre muito ocupado custeando a vida, ocupado com consumo material, constante consumo de serviços de prazer de curto prazo e com foco na notícias do dia que chegam às suas cabeças sem exigir seus esforços de leitura ampla sobre a atualidade e os processos que a formaram.

Os países-membros da OTAN não estão livres de culpa pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Se os estados do planeta terra, principalmente os mais ricos, não forem mais amigos da verdade e daquilo que possibilite uma vida sem guerras e sem competição econômica devastadora, vamos desenvolver fronteiras nacionais e culturais fortíssimas e nos auto-detruir em poucas gerações. As novas tecnologias vão impulsionar essa auto destruição, o pensamento egoísta e confortável de cada cidadão de hoje fundamenta isso.

Leia também „A invasão da Ucrânia e o tema internacionalização da Amazônia tem algo em comum – se usarmos a imaginaçã