*) Tradução do título „Ausgrenzung, Raub und Vernichtung – NS-Akteure und „Volksgemeinschaft“ gegen die Juden in Württemberg und Hohenzollern 1933 bis 1945“ significa em português „Segregação, Roubo e Destruição – Atores NS e a „Comunidade do Povo“ contra os judeus em Württemberg e Hohenzollern 1933 a 1945″
III Império
Este termo não é um termo predileto de uso pelos autores do livro, pois, como eles argumentam na página 17 e 18, trata-se de um termo que oficialmente não identifica o estado nazista, já que esta não era a denominação oficial do estado, apesar de até mesmo Hitler e outros líderes deste estado o usarem como propagando de seus ideais. Porém eu o uso aqui pois ele simplifica muito o entendimento desta época no contexto das diferentes épocas da evolução política da nação germânica. este têrmo também identifica bem a aspiração do estado e do seu povo: desejavam um estado como um império totalitário, de grandeza territorial e enorme poder econômico, politico e miliotar sobre outros povos. Inclusive Hitler sonhava alto com a volta do povo alemão em forma de um império de mil, se referindo ao „I Império germânico“ que durou 1006 anos.
„NS-Akteure“ ou Atores NS
Os atores NS são os agentes das brutalidades. Eles são abordados em todas as etapas da estrutura do livro, e isso até pouco tempo atrás, para relembrar, é algo que não era comum na literatura sobre o tema. Publicar os fatos já era uma normalidade nos livros de história, porém dar nome aos malfeitores, ou seja, à atores nacionais socialistas (NS) através de documentos comprobatórios de suas ações malvadas, contar a história assim em forma sequencial, era algo ainda um tanto inusitado. Em 2003 surgiu um lexicon com o nome de vários Täters (malfeitores) e deste marco tornou-se comum usar nomes dos malfeitores visto que cada vêz mais eles envelheciam e faleciam, ou seja, não eram mais confrontados com seus feitos, então a mídia tratava deles e seus feitos sem lhes causar danos em vida. Aqui neste livro os terríveis feitos e os malfeitores são postos em seus contextos.
„Volksgemeinschaft“ ou Comunidade do Povo
Mesmo este têrmo sendo traduzido para o português, ele não expressa seu significado no seu todo na cultura do Brasil. Este têrmo teve seu surgimento no contexto do III Império alemão e ele tem sido motivo de diversas pesquisas, livros e debates. De forma bem sumarizada ele representa do „Deutschtum“, ou seja, germanidade como se o conhece no Brasil.
O objetivo da política nacional-socialista era estabelecer uma sociedade nacional, uma ordem social à qual pertenciam apenas as pessoas de linha de sangue alemã e geneticamente valiosos (sem defeitos físicos ou mentais) e racialmente puros, ou seja, sem miscigenação com raças estrangeiras, sobretudo com judeus. Inclusão de alemães e exclusão de não-alemães da comunidade são, portanto, os dois lados inseparáveis da „Volksgemeinschaft“ nacional-socialista alemã.
Gau
Um Gau era uma unidade administrativa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) até 1944. O Gau Württemberg-Hohenzollern era uma unidade administrativa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e permaneceu assim até 1944.
Além das tarefas administrativas, um Gau possuía como principal função a mobilização da população por meio da propaganda, conduzir e coordenar campanhas eleitorais. A partir de 1936, sua importância como unidade organizacional territorial cresceu em etapas, quando novas funções específicas do regime foram sucessivamente atribuídas a ele. As estruturas estatais tradicionais e as novas divisões distritais já haviam se sobreposto e o Gauleiter e as administrações distritais tornaram-se os detentores de poder regional decisivos do regime.
Um Gau era uma espécie de „estado“ na „federação“ do Grossdeutsches Reich (Grande Reich Alemão), como o III império alemão gostava de se auto-denominar.
A situação no período que possibilitou os acontecimentos descritos no livro e nos dias de hoje
Os cidadãos alemães tinham um forte sentimento nacional e de povo típico de todas as gerações alemãs das primeiras décadas do século XX: a germanidade (Deutschtum). Os cidadãos alemães tinham um forte sentimento nacional e de povo típico de todas as gerações alemãs das primeiras décadas do século XX: a germanidade (Deutschtum). Os membros do povo alemão sentiam-se, independentemente de terem nascido na Alemanha de pais alemães (cidadãos) ou nascidos no exterior como descendentes de alemães (cidadãos da natal e da terra de sangue alemão
Esse sentimento de orgulho, por se sentirem pertencentes a um povo que atuava melhor e de maior qualidade em tudo, foi o terreno fértil para a propaganda do NSDAP, o partido de Hitler.
Depois de perder a Primeira Guerra Mundial, esse orgulho ficou seriamente ferido, eles passaram a ser governados por um sentimento de derrota, orgulho ferido, e uma alma mergulhada na germanidade fez seus corações baterem desesperadamente em seus peitos.
Os ideais propagados pelo partido de Hitler, que prometia aos alemães recuperarem sua antiga força militar e grandeza no mundo (o novo império de mil anos), fizeram com que o latente sentimento nacional se expressasse de maneira explosiva na alma alemã. O partido Hitler (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães ou NSDAP) prometia uma dominação mundial através de superioridade militar e econômica com terras e outros tipos de prosperidade para os alemães em todo o mundo e de qualquer geração, o importante seria ser de sangue alemão e não judeu.
Como resultado, Hitler foi eleito com entusiasmo e logo recebeu poderes absolutos para cumprir as promessas de campanha. Nesse contexto, os alemães ajudaram Hitler e seu governo a moldar o nacional-socialismo e „limpar“ o novo Reich alemão dos judeus.
O novo império alemão foi então edificado e mantido com força e violência nesse contexto nacional-socilaista (nazista) que só deixou de existir porque exércitos de vários países do mundo, inclusive o Brasil, se aliaram para combater novamente os alemães e seus exércitos em uma outra guerra mundial (Segunda Guerra Mundial ) e forçá-los a desistir de tais ideais nacionais-socilaistas.
Os alemães foram forçados a desistir do estado nacional-socialista e fundaram um novo estado sob a forma democrático-republicana. O que restou foi um renovado sentimento de derrota, orgulho ferido e um coração imerso na germanidade de cunho nazista que agora era forçado a aprender a pulsar de maneira democrático-republicana.
Nos dias de hoje, 89 anos após a fundação do estado nacional-socialista, a Alemanha é um país cuja forma de lidar com seu passado é determinada por franqueza e liberdade de expressão e publicação sobre os fatos, algo que não era uma coisa natural nos primeiros 55 anos após o fracasso do estado nacional-socialista (muito referido como III império alemão pelos historiadores alemães e estrangeiros). Este livro é um sinal desta nova era na sociedade alemã.
Do que trata o livro?
Este é um livro de acompanhamento da exposição de mesmo nome.
Na atualidade, se você quiser saber com o maior detalhe possível o que aconteceu com alguns dos cerca de 11.000 cidadãos judeus que viviam na região Württemberg e Hohenzollern (no mapa acima a região circundada em preto) no início do III império alemão, então este livro lhe possibilita entender de forma abrangente, inclusive com ajuda de fotos e documentos, o destino que foi dado aos judeus de tal região. Baden-Wüttemberg, cuja capital é Stuttgart, é uma região conhecida no Brasil mais pelas marcas Mercedes Benz, Bosch, Porsche, Würth, Zeiss, Festo. etc., do que pela sua história.
A expropriação e aniquilação econômica da população judáica pelo III império alemão é considerada pelos pesquisadores como o ato mais abrangente de roubo de um grupo populacional específico na história européia moderna. Ao mesmo tempo, o furto em nome do Estado anti-semita foi parte integrante de um processo de extermínio que finalmente resultou no holocausto, ou seja, no assassinato de no mínimo seis milhões de homens, mulheres e crianças judias de toda a Europa.
Este é um livro diferente dos tantos já publicados, pois ele apresenta ao leitor de forma contextual e compreensível os acontecimentos referentes aos então bastante desconhecidos processos de segregação, furto e extermío de judeus na região do atual estado de Baden-Wüttemberg durante o III império alemão. A República Federal da Alemanha, principalmente a partir do governo da Chanceler Angela Merkel, tem empreendido enormes esforços para tornar amplamente conhecida sua história do século 20 e também para criar uma cultura de memória do passado de forma bastante intensica, dinâmica e acessível a todos.
Assim como em todas as regiões dominadas pelo III império alemão, no gau Württemberg e Hohenzollern, o furto dos bens da população judáica também estava ideologicamente e de foma bem estreita ligado ao seu subsequente extermínio físico. Os eventos a nível regional foram intensamente pesquisados pela primeira vez nos recentes últimos anos como parte de um projeto encabeçado pela Associação das Entidades de Conservação da Memória Histórica Registradas Gäu-Neckar-Ulm (Gedenkstättenverbund Gäu-Neckar-Ulm e.V.) com participação de mais duas outras organizações (ver mais abaixo a parte O projeto do livro).
De acordo com estimativas conservadoras, existiam neste gau do III império alemão cerca de 1.500 lojas e empresas – na sua maioria pequenas e médias lojas têxteis e do ramo agro-pecuário, tabacarias e charutos – cerca de 140 fábricas, 35 bancos privados, cerca de 120 advogados, cerca de 150 consultórios médicos privados e vários centenas de outros profissionais liberais e funcionários públicos, incluindo muitas mulheres. Isso tudo passou para a posse de cidadãos alemães não-judeus do III império.
Vários altos funcionários nazistas e líderes locais do partido nazista foram nomeados como novos proprietários de empresas furtadas do judeus (ou seja, arianizadas), e o Banco de Poupança do Estado de Württemberg aprovou generosamente inúmeros “empréstimos de arianização”.
Em Dezembro de 1941, por exemplo, quando 2.500 judeus, alemães de Württemberg-Hohenzollern, foram deportados para os campos de extermínio, a Gestapo e a Administração Pública Financeira de Württemberg estavam de plantão para confiscar todos os bens das vítimas e vendê-los completamente aos alemães arianos. Nenhum escritório local e nem mesmo a nível regional da secretaria de imposto de renda em Stuttgart saiu de mãos vazias. O que as autoridades nazistas e as organizações do partido não precisaram, foi leiloado pelo maior lance, e a maioria dos participantes era composta por cidadãos comuns em „busca de pechinchas“.
O livro oferece um esclarecimento das condições jurídicas, administrativas e político-ideológicas que possibilitaram a expropriação completa e o extermínio de quase toda a população judaica do Gau Würtemberg e Hohenzollern (hoje mais ou menos a região do estado de Baden-Württemberg) durante o III império alemão. Ele lança luz sobre o eficiente sistema de radicalização recíproca e as medidas de controle com o qual o partido NSDAP, a burocracia do estado, as empresas e a „Volksgemeinschaft“ impulsionaram a segregação, roubo e extermínio dos judeus e apresenta ainda atores importantes a nível regional, ou seja, no Gau Württemberg-Hohenzollern, bem como deixa claro a maneira como eles procederam nos orgãos e instituções públicas para serem eficazes no desenvolvimento e aprimoramento da política de segregação, roubo e extermínio de seus co-patriotas de confissão judáica.
A natureza do livro e seu tempo
Este livro entra para o pequeno grupo de livros que vem sendo lançados para elucidar o terrível passado das gerações que formaram a sociedade alemã de 1933 a 1945. Assim como os outros livro desta natureza, este aqui poderia já ter sido lançado há muito mais tempo como resposta da sociedade alemã repudiando os horrores do regime nazista que seus antepassados apoiaram tão fervorosamente. Já bem cêdo, depois que o III império alemão foi posto abaixo pelas forças aliadas, ressurgiu, em 1949, um novo estado alemão, a República Federativa da Alemanha sob um novo regime político e neste mesmo ano fundou-se também o Instituto Alemão para a História da Era Nacional Socialista que mais tarde passou a se denominar Instituto de História Contemporânea (IfZ). Ele é uma instituição de pesquisa não universitária que se ocupa com toda a história alemã desde o século 20 até o presente em seu contexto europeu e global. Assim como um grandioso número de instituições governamentais e não governamentais, este instituto também estava impestado de empregados e colaboradores impregnados com os ideais do III império. A preocupação com a história dos II e III impérios alemães foi um dos fatores que contribuiram para o rápido surgiento deste instituto, pois a história deste dois impérios alemães e seus documentos precisavam de fieis guardiões. Era preciso passar por eles e outros guardiões para se ter acesso a tanto.
É de conhecimento geral que, na Alemanha, a sociedade da República Federal da Alemanha, ou seja, do estado que sucedeu o III império alemão, continuou por décadas impestada de nazistas convictos em todos os setores da sociedade. Por décadas o regime republicano-democrático da República Federal da Alemanha, compactuando com seus cidadãos e vice-versa, preferiu nutrir o velho sentimento nacional-socialista ou o Deutschtum (germanidade) ou algo entreposto que desde 1945 ainda lhes enchia o coração e continuou lhes guiando a razão por longas e sucessivas décadas enquanto perseguiam novos objetivos de grandeza e poder, desta vêz sem diretamente causar males como erram causados no regime anterior. O novo estado republicano-democrático, seus quatro poderes (a mídia como quarto poder) e o povo, unidos pela cultura que lhes touxe até os dias atuais, escolheram se adaptar à nova situação política no novo estado alemão e se concentrar em fazer crescer sua força econômica, e a partir dela, o próprio poder político para fazer surgir uma Alemanha forte e respeitada. Não havia nem espaço, nem vontade para fazer o mea culpa. Se ocupar com a história era algo muito indesejável. O lema era seguir adiante e tornar a nova Alemanha e os alemães em todas as partes do mundo, o mais rápido possível, respectivamente numa super potência econômica e respeitados.
Na Alemanha da atualidade trata-se a história do III império de forma bem aberta, me atrevo a afirmar que o fazem assim como nenhum outro povo na face da terra trata sua própia história. Por isso mesmo somente agora foi possível uma obra desta natureza surgir nesse rico estado de Baden-Wüttemberg.
O livro é um marco histórico na política alemã de relembraça do passado
O livro trata de maneira tão abrangente e tão documentada os terríveis acontecimentos na vida dos cidadãos alemães de confissão judáica que habitavam o gau Württemberg e Hohenzollern entre 1933 e 1944, que até mesmo provoca forte admiração. Eu me ocupo com a história alemã há várias décadas e posso afirmar sem medo de errar que tal publicação se enfileira com algumas poucas tão abertas, nomeando os atores, mostrando fotos e provas cabais de suas maldades.
Mesmo tendo sido lançada somente agora, depois que quase todos os protagonistas nazistas morreram, até mesmo aqueles que tranquilamente viveram na nova sociedade alemã, sem serem confrontados e/ou responsabilizados pelos crimes cometidos, essa publicação implica em coragem e perseverança no fortalecimento do processo de aculturamento da sociedade liderado sobretudo pelo governo federal e pelos governos estaduais sob resistência da sociedade, ela que de preferência opta por um ponto final nesses temas e deseja que este seja relegado aos ambientes de pesquisas e não mais públicos.
Se ocupar com o passado alemão dentro da Alemanha é algo que nem todo mundo deve se atrever. Ainda há dificuldade de toda natureza, principalmente para estrangeiros não-historiadores como eu. Talvêz por isso mesmo este livro tenha sido lançado por três fortes organizações oficialmente responsáveis a nível público pela educação política e lembrança do passado (vêr abaixo na parte O projeto do livro).
Os acontecimentos narrados nesse livro ocorreram de forma semelhante dentro de toda a fronteira do III império alemão. Este tipo de abordagem sem medo de tratar o horroroso passado, já se tornou sintomático na Alemanha do século 21. Uma nova geração de historiadores, jornalistas, políticos, empresários, enfim, de profissionais da sociedade alemã como um todo, demonstra grande empenho em trazer à luz da atualidade os terríveis acontecimentos promovidos pelo regime nazista. Porém a nível inter-pessoal, o tema ainda é amplamente evitado. A mídia, os livros científicos e outras entidades, como por exemplo agremiações e associações, se encarregam de tratar desse passado. Porém, no dia-a-dia na sociedade a nível de indivíduos, o tema permanece tabú.
O projeto do livro
As pesquisas, o preparo do conteúdo e o lançamento do livro foram organizados e comissionados pela Associação das Entidades de Conservação da Memória Histórica Registradas Gäu-Neckar-Ulm (Gedenkstättenverbund Gäu-Neckar-Ulm e.V.), pelo Arquivo Estadual de Baden-Württenberg (Landesarchiv Baden-Württenberg) e pela Central Estadual de Educação Política de Baden Württemberg (Landeszentrale for Politische Bildung Baden Württemberg).
O título do livro
O título do livro (traduzido logo no início desta resenha) foi bem escolhido pois ele reflete a sequência dos brutais acontecimentos: Exclusão, Roubo e Extermínio (Ausgrenzung, Raub und Vernichtung) praticados geralmente nesta sequência também contra judeus no gau Württemberg e Hohenzollern.
Os judeus em Württemberg e Hohenzollern foram primeiramente excluídos da vida social, quer dizer, sistematicamente lhes proibiram a prática da profissão, lhes expulsaram de seus empregos e cargos públicos, das escolas, clubes, etc. e lhes forçaram a vender suas empresas, bancos, etc a preço de banana, proibiram as crianças e jovens judeus de visitar a mesma escola, a mesma piscina pública, jogar futebol em clubes públicos, enfim, os judeus foram excluídas da convivências com os seus co-cidadãos não-judeus e lhes desativaram absolutamente todos os direitos como cidadãos do estado em que viviam. Em seguida ou em paralelo lhes roubaram tudo o que possuíam, inclusiva se apossaram de suas forças mentais e físicas para o trabalho forçado em residências, empresas, fábricas e campos de concentração alemães espalhados pelo território do III império.
A estruturação do conteúdo
Geralmente pessoas leigas da sociedade alemã acham o tema muito complexo e comovente num sentido negativo. Mas quando o tema é exposto numa linguagem objetivando transmitir o conteúdo de forma compreensível, até quem não gosta de lêr, passa a se ocupar mais com a leitura. Historiadores alemães, geralmente, possuem o costume de usar uma linguagem complicada que eles consideram ser científica. É como se desejassem de qualquer forma fazer as coisas cientificamente apresentadas serem complexas, até mesmo quando se dirigem à um público leigo, por exemplo em uma apresentação pública via internet ou em algum museu. Isso mantém os leitores populares distantes. Se o objetivo for evitar que a massa popular se interesse pelo assunto, eles alcançam bem seus objetivos.
A temática do livro atual é complexa, mas a estrutura deles, a linguagem, as fotos e os gráficos facilitam bem o entendimento do contexto.
Quando leigos se ocupam com a história do III Império alemão, eles logos se lembram que os alemães da época exterminaram os judeus. Isso geralmente é tudo o que se sabe e de forma superficial. Mesmo na Alemanha atual, onde o estado e a mídia se empenham muito forte em tornar tal passado compreensível em toda a sua abrangência, as novas gerações não conhecem bem as fases do aniquilamento dos judeus: 1. segregação, 2. furto e 3. extermínio. As pessoas na Alemanha somente de forma superficial sabem que o aniquilamento dos povos considerados inferiores, sobretudo os judeus, foi minuciosamente planejado e posto em prática. Nem mesmo nas escolas (ginásios, etc.) se ensina sobre esse passado de forma adequada e bem supervisionado. O tema é tratado em escolas alemães também de forma bem superficial. Aqui na Alemanha o governo subvenciona a visita a campos de concentrção, e em muita escolas, essa visita de um dia a um campo de concentração faz parte da aula de história.
Este livro está excelentemente estruturado para qualquer leigo se interar do assunto sem precisar se esforçar muito para entender o contexto, portanto ele seria um livro, mesmo desacompanhado da respectiva exposição, ideal para o mercado e escolas brasileiras. É sua combinação de texto e imagem postas em contexto que o torna interessante e compreensível e por isso recomendável ao mercado brasileiro.
O conteúdo possui 5 partes que estão em um contexto cronológico facilmente compreensível:
Parte I
De 1933 às vésperas das Leis de Nuremberg: os primeiros ataques no estado nazista
Parte II
Das Leis de Nuremberg de 1935 ao pogroma de novembro de 1938:
cobertura econômica total e aceleração das vendas forçadas
Parte III
Da pogrom de novembro de 1938 aos preparativos para as deportações em 1941: o terror pogrom, impostos especiais, proibição final da excerção das profissões
Parte IV
Novembro de 1941 a maio de 1945: a execução das deportações e o roubo final
Parte V
Após o fim da guerra: a segunda culpa na democracia
O livro abrange sequencialmente o início da perseguição e os aspectos regionais das instâncias de perseguição (atores e colaboradores) bem como as lutas de importantes segmentos profissionais pela própria existência econômica. Seguem-se artigos que, na maioria dos casos, iluminam bem todo o processo de exclusão e roubo, até o procedimento de recuperação dos bens roubados (depois do extermínio do sistema nazista), usando exemplos significativos de vários municípios de Württemberg e Hohenzollern. Quase todas as matérias do livro contêm fotos, cópias de anúncios comerciais e/ou documentos da época que contribuem para facilitar a compreensão dos acontecimentos da época e que ainda não haviam sido publicados antes com tanta abundância.
A estrutura do conteúdo desta publicação baseia-se na tese de que a radicalização da política de perseguição aos judeus se deu passo a passo e atingiu um novo estágio com eventos centrais de âmbito nacional, como por exemplo o boicote da compra em lojas de judeus a partir de Abril de 1933, em seguida as Leis de Nuremberg de Setembro de 1935 e então seguiu-se a noite dos cristais em Novembro de 1938. Houve sucessivas novas e severas fases de intensificação da política contra os judeus entre 1939 e o outono de 1941 quando culminou com os preparativos e realização das deportações para os campos de concentração espalhados pelo III império alemão.
Nesses anos de 1939 e 1941, as medidas administrativas do governo central se entrelaçavam harmoniando-se com as regionais e os atores regionais (municípios, distritos e estados) ou competiam entre si ou atuavam lado a lado para obterem alta eficácia na execução das medidas finais de segregação, roubo e extermínio em prol da Volksgemeinschaft alemã. Esse complexo processo político e social de segregação, roubo e extermínio dos judeus continuou a ser metodicamente incrementado e radicalizado. A dureza que caracterizava a perseguição aos judeus não mudou fundamentalmente durante a transição de uma fase para a próxima fase, mas intensificou-se mais ainda.
Para finalizar
A complexidade do trabalho de conectar textos a fotos e outros documentos para formar um claro processo de desdobramento de seletos acontecimentos que ocorreram no período escolhido, impôs limites na abrangência e no nível de detalhes porque já desde 1933 a 1945 aconteceram barbaridades impossíveis de serem descritas tão ilustrativamente em um livro de acompanhamento de uma exposição com o mesmo tema.
Os acontecimentos publicados nesse livro nem mesmo descrevem o pico do Iceberg dos horrores praticados aos judeus, polonêses, ciganos, etc. na época do III império alemão, porém eles servem como referência para imaginarmos com alta acertividade o que mais de maldade os protagonistas de todos os outros segmentos da sociedade, inclusive as igrejas católicas e protestantes e toda a população que convivia com os cidadãos judeus foram capazes de cometer contra outros seres humanos, inclusive vizinhos, somente pelo justificativa deles serem de confissão judáica, polonêses, ciganos, ou seja, não serem de sangue alemão.
Os tempos mudaram, a Alemanha e seu povo são da paz
O lançamento de uma obra documental com esta, fala bem alto e fala bem da nova cultura republicana-democrática alemã de lidar com seu terrível passado. Para que tal obra pudesse ser realizada, foram contratados 25 pesquisadores dos centros de preservação memoriais, de arquivos estaduais e municipais, bem como outros especialistas em nível regional e local, e isso deve ter custado uma fortuna aos cofres do estado. Mesmo assim o livro pode ser adquirido por apenas EUR 18,00. Este é um preço baixíssimo para um livro desta natureza.
Além disso encontram-se à disposição de escolas e instituições de ensino um leque de materiais pedagógicos relacionados à temática do livro, para ser baixado em computadores e usado em aulas. A própria exposição está disponível e pode ser solicitada para ser enviada a qualquer parte da Alemanha. Tudo isso é uma grandiosa demonstração do tremendo esforço que o estado de Baden Würtemberg faz para que o acesso à informação sobre o passado seja facilitado à todos com o intúito de todos aprenderem a dura lição que seus antepassados lhes deixaram. Tirar proveito dos tremendos esforços que o novo estado alemão e seu governos tem empreendido desde a era da Chanceler Merkel para tornar conhecida a história recente de seus dois impérios é algo que engrandece as novas gerações de alemães perante o mundo e a todos que tiveram suas vidas interrompidas, suas famílias, suas bases econômica, tiveram seus patrimônios roubados e seus países destruídos. Aprender estas terríveis lições de forma sincera, é se colocar num contexto positivo perante a própria terrível história.
Infelizmente este livro foi lançado somente em idioma alemão. No mercado brasileiro eu desconheço uma obra desta envergadura.
Agradeço à Landeszentrale für politische Bildung Baden-Württenberg pelo Livro.
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Link para uma exposição atual sobre o tema: https://www.landesarchiv-bw.de/de/themen/praesentationen—themenzugaenge/67600
O livro que acompanha a exposição pode ser encomendado aqui: https://www.lpb-bw.de/publikation3445
Quanta coisa que não se conhece dessa história alemã. Segregação, furto e assassinato, tudo planejadamente.
Alles wahr! Você escreveu bem mesmo. Eu pesquisei sobre este livro. Vou comprar. Os brasileiros só conhecem essa história pelos filmes de Hollywood, ou seja, pouco sabem. Minha família odeia o tema.
Muito legal! Pode-se comprar esse livro no Brasil? Não falo alemão, mas fotos dizem mais do que mil palavras. Meu e-mail está no contato. Obrigado pelo retorno.
Nem quero ler esse tipo de coisa triste. Vou ficar é com mais raiva dessa alemãozada.